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A Fazenda do Estado II

AÇUDES, RIOS, RIACHOS, TANQUES E CACIMBAS
Autor: Ivan Lemos de Carvalho

A Fazenda do Estado II

 

Sobre a Fazenda do Estado, tenho também umas lembranças a acrescentar às do Fernando. E uma historinha “do mal”, que contarei outro dia. Primeiro, as lembranças. O engenheiro-agrônomo que governava a fazenda modelo era Antônio Medeiros. Não sei quantos filhos tinha, mas tinha uma filha, Lucy Lago de Medeiros, que foi minha “madrinha de formatura” do curso de ginásio nos Maristas de Senhor do Bonfim. Foi quase uma namorada, mas o amor recíproco de tenra idade não foi declarado e não passou de platônico. E então a vida nos separou sem a menor consideração. Que esteja feliz com sua família e a graça de Deus.

Adilson e Nilton Cabral foram meus colegas de turma nos maristas. Nilton era sempre o primeiro da turma, todo esforçado e responsável, sempre na primeira fila, o perfeito CDF. Tornou-se médico depois e fixou-se em Bonfim. De Adilson, sei menos, parece que se tornou engenheiro agrimensor. Com a irmã Neusete, toda bonitinha, um rosto perfeito, eram filhos do veterinário da Fazenda do Estado, Teodoro Cabral.

Não havia no “Estado” veículos automotores. Eram coisa rara nas pequenas cidades do nordeste baiano naqueles tempos. Mas, havia uma charrete puxada por um belo cavalo, que era orgulho das famílias Medeiros e Cabral, às quais servia. E havia (ainda há) o açude que uns chamavam “do Coité”, outros “dos Algodões”, alimentado pelas torrentes que descem das serras quando chove e, ao ultrapassarem o sangradouro deste açude, atravessam o vale em que fica a cidade, engrossadas pelas águas que afluem no trajeto, enchendo saudosas cacimbas. Era proibido nadar no açude do “Estado”, pois o pessoal da fazenda bebia dele, mas era um prazer quebrar a proibição para nadar até três generosos pés de jenipapo a uns 30 ou 40 metros da margem e voltar com dezenas desses frutos deliciosos boiando à nossa frente. Eu, meu irmão Maurício e Júlio Carlos, filho de Elísio Ferreira, éramos infratores contumazes da proibição. Interessante que o Açude do Jenipapo, alimentado pelo “riacho dos Algodões”, importante local de lazer quando estava cheio, situado próximo ao outro extremo do vale que abriga a cidade, não tinha, como todo mundo sabe e este site já assinalou, sequer um pé de jenipapo. Razão há de existir para o aparentemente inexplicável nome, mas os mais antigos guardaram bem o segredo. Arrisco que havia por lá algum pé de jenipapo, que evaporou antes que nossa geração começasse a nascer. Talvez o houvessem derrubado, quem sabe, para construir a barragem. E em homenagem póstuma lhe puseram o nome no açude.

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